06/09/2012

REPULSA

Para vocês, governantes da treta!
Para vocês, parasitas asquerosos
que estão aí, rindo de mim
bem do alto da vossa importância...

Vocês, que se divertem a escarnecer da minha tristeza...
Da minha pobreza...
Das minhas lágrimas...
Da minha vergonha...
Da minha fome...
Vocês, que com a vossa mediocridade
me passaram há muito, um atestado de inutilidade!
E com isso, esfrangalharam a minha auto-estima
a minha dignidade!
Digam-me!
Vocês estão a rir-se de quê?
Estão a rir deste farrapo humano que vocês próprios inventaram?
Que vocês próprios criaram e manipularam?
Estão a rir, por me terem roubado a vontade de sorrir?
Por terem apagado a luz que me iluminava as entranhas?
Por terem ceifado as flores que enfeitavam as minhas esperanças?
Palhaços!
Que mais farão vocês a seguir
para me deprimir?
Que mais vos falta fazer
para que o vosso riso possa ser ainda mais amplo?
Para que o vosso divertimento possa ser ainda mais completo?
Para que o vosso gozo possa ser total?
Digam-me, palhaços! Que vão vocês fazer?
Vão-me prender?
Pois então, prendam-me!
Porque mesmo na prisão, hei-de gritar bem alto a minha repulsa!
E mais alto ainda, gritarei os vossos nomes...
Incompetentes!
Ladrões!
Corruptos!
Assaltantes do povo!

Mas, se vocês porcos fascistas, acharem que sou um louco
e que prender-me, poderá ser pouco...
Então, dêm largas ao vosso prazer
e mandem-me abater...!
Mas não...! Vocês, são cobardes demais para isso!
Vocês sabem que não adianta matar um poeta!
Porque se um poeta vivo nunca se cala,
um poeta morto não perde a fala!
Por isso, vocês corja de abutres
não vão fazer-me nada!
Vocês sabem, que é tudo verdade, aquilo que eu vos digo!
Vocês sabem que são justos, os nomes que eu vos chamo!
Vocês canalhas, são uma vergonha!
Vocês são o esterco, que fez apodrecer este país!
Vocês são o cúmulo da futilidade
e a peste, que envenenou a sociedade!

Vocês, corja, não são governantes...
São porcos que chafurdam na podridão das vossas mentes!
São pavões, que se empanturram de vaidade!
E se lambuzam, no dinheiro que roubam ao povo
para destribuirem aos maços
pelos ricos, vossos amigalhaços!

Odeios, cambada!
Vocês são a merda que transbordou de uma qualquer fossa céptica
e se transformou num rio...
Que os há-de arrastar até à raiz, da grande puta que os pariu!

José Gago

13/08/2012

JOSÉ ROSA GAGO - ( Poema acróstico )

Jamais serei poeta da saudade
Ostentando a tristeza como meta
Serei sim, um cantor da Liberdade
É esse o meu dever como poeta!

Reclamar os meus direitos, estar presente
Onde a minha poesia esteja em riste
Sem medo, agitar lá bem na frente
A bandeira da razão, que ao povo assiste!

Garantir a altivez do meu país
Abril aconteceu, é imortal...
Gritar ao mundo - Aqui, eu sou feliz
O meu país é livre, é Portugal...!

José Gago

OLÁ, LUANDA!

Olá, Luanda!
Minha alegre cabritinha enamorada!
Meu sumo de manga fresquinho
que eu bebi de madrugada...
Minha janela aberta
por onde vejo essa Angola
tão distante e tão amada...!

Olá, Luanda!
Da imensidão do mar anil...
Dos bairros de S.Paulo e do Cazenga
do campo do Grafanil...
Onde um dia morri por ti
antes de Abril...!

Olá, Luanda!
Minha savana incendiada
fogo posto no capim...
Tu és merengue, quizomba e batucada
saudade amontoada
que arde dentro de mim...!

José Gago

O BEIJO ROUBADO

Após a valsa rodada
que nós dançámos os dois
a dança que veio depois
foi muito mais complicada...
Decidi roubar-te um beijo
e levei uma estalada!

Foi um beijo sem maldade
sem ofensa p'ra ninguém
mas tu não achaste bem
essa minha liberdade...
E de uma coisa tão simples
formou-se uma tempestade!

Veio o teu pai e a tua mãe
veio também o teu irmão
instalou-se a confusão
não mais se entendeu ninguém...
Dei meia dúzia de socos
mas levei para aí uns cem!

E assim me ficou gravado
p'ra toda a eternidade
aquele beijo roubado
na febre da mocidade...
No bailarico mais falado
da nossa colectividade...!

José Gago

11/08/2012

PERDIDOS E ACHADOS

Atenção!
Encontrou-se cabeça...

Perdida por uma razão qualquer,
tanto pode ser de homem, como de mulher...!

Pelo mau estado em que se apresenta,
revela nunca ter tido massa cinzenta...!

Todo o interior da sua estrutura,
demonstra avançados sinais de loucura...!

Também a sua superfície exterior
se apresenta muito combalida...
Devido às grandes cabeçadas,
que terá dado na vida...!

Mesmo que haja pouco a fazer-lhe...
Entrega-se a quem provar pertencer-lhe...!

José Gago

TUDO E NADA

Eu sou o rio impaciente
que corre veloz...
Em busca da foz...!

Sou a onda indiferente
prenha de segredos...
Que esmaga a revolta, de encontro aos rochedos...!

Eu sou a nortada
persistente e fria...
Que agita a seara, ao final do dia...!

Eu sou tempestade e sou acalmia...
Sou o frio da tristeza...
Sou o sol da alegria...!

Sou a noite de breu
e sou a madrugada...
Sou o silêncio
e sou a alvorada...
Sou a partida
e sou a chegada...

Eu sou tudo...
E não sou nada!

José Gago

FILHA PREDILECTA

É filha predilecta de Palmela,
a terra que eu mais amo e me alumia
Por ser Quinta do Anjo o nome dela,
tem anjos a guardá-la noite e dia...

Muito embora modesta, é altaneira
imponente no nome e tradição
Do trabalho teceu sua bandeira
e dorme em lençóis feitos de pão...

A serra dá o tom de verde e ouro
ao manto que cobre a sua nudez
O vinho dá-lhe o crisma dum tesouro
e a força do sangue bem português...

Os seus filhos leais, seguem o lema
fiéis à sua regra pioneira,
Amá-la como os versos dum poema
que se escreve e se canta a vida inteira...!

José Gago

15/07/2012

O CANDIDATO DO ZÉ

Portugueses!
É verdade que eu estou aqui
para vos pedir o vosso voto!
Mas ao contrário de outros candidatos
que andam por aí a prometer, aquilo que não podem fazer...
Eu não peço o vosso voto
apenas para me sentar na cadeira do poder...!

Eu peço o vosso voto, sim!
Porque sou um candidato diferente...
E quero fazer a mudança
e trazer a esperança a toda a gente!

Eu não sou o candidato da mentira
nem da incerteza...
Eu sou o candidato da verdade
e da certeza!

Blá blá... Blá blá...
Blá blá... Blá blá...

Sempre que há eleições...
Este é o discurso matreiro e costumeiro
dum qualquer candidato ao poleiro...!
Candidato que pondo em campo toda a sua habilidade...
afabilidade e boa fé...
Tem por único obectivo, caçar o voto ao Zé!

E como sempre... O Zé escuta!
O Zé pensa...
Torna a escutar...
Torna a pensar...
Medita!
Hesita!
Mas no fim, acredita...!

E assim, chegado o dia da eleição
o Zé todo pimpão...
Levanta-se cedinho
põe pés a caminho
e lá vai, pôr a cruz no quadradinho...!
E o Zé, está entusiasmado...
Está farto de ser enganado
mas desta vez, escolheu o candidato acertado...!

O escrutínio chegou...
O Zé aguardou...
O candidato ganhou
E o Zé festejou!

Logo mais, o eleito falou!
O Zé escutou...
E de tudo o que ouviu
o Zé não gostou...
E logo exclamou:
Porra!
Este gajo já me enganou!

Aquela criatura simpática, afável, e fagueira
que o Zé apoiava com cegueira...
Uma vez eleito
já não fala da mesma maneira!
E o Zé, na sua boa fé
mais uma vez, fez asneira!

Neste caminho de escolhos
de esperanças ao Deus dará...
Se o Zé não abrir os olhos
nunca mais iremos lá...!

José Gago